As aventuras do Corpo Expedicionário Português na Flandres foram um contínuo de desgraças, episódios reveladores da falta de planeamento que cedeu face a objectivos políticos imediatos. Em última instância, enviámos homens mal preparados para uma frente de batalha profundamente adversa à nossa experiência e preparação militares, para salvar o regime republicano e o Partido de Afonso Costa. Mal preparados e mal instalados. Ao ponto de, em plena campanha, na Flandres, existirem mais doentes que feridos, predominando as doenças clínicas sobre as doenças de guerra tradicionais. Mas devemos confessar que os nossos aliados ingleses também não ajudaram. Apesar de aliados, nunca deixaram de revelar a habitual animosidade, gabarolice e espírito de superioridade britânicas. Ora acontecia que o nosso fardamento, cinzento ou azulado, não dava uma imagem de grande asseio, ainda para mais quando se lutava invariavelmente em trincheiras lamacentas. Porém, os nossos amigos britânicos brindavam-nos com uma desagradável alcunha e chamavam-nos porkises! No entanto, quando chegámos ao Inverno, apercebemo-nos que não nos tínhamos preparado convenientemente, mesmo ao nível do fardamento. De qualquer modo, não foi um obstáculo intransponível. Concretizando a nossa costumeira política de desenrasque, foram enviados samarras alentejanas para os nossos soldados. Como essa improvisada farda exibia nas golas pedaços de pele de carneiro, conta-se (André Brun, A Malta das Trincheiras, 1919) que os alemães, que com facilidade nos avistavam das suas trincheiras, ao repararem no nosso original fardamento, se puseram a imitar os balidos do gado ovino. Portanto, os nossos aliados alcunhavam-nos de porcos e os nossos inimigos chamavam-nos carneiros. Era possível escapar a esta zoológica condição?
Eu diria mesmo: será hoje possível escapar a esta zoológica condição?....
ResponderEliminarQue engraçado! Afinal os Piigs têm tradição.Quanto a ingleses e alemãs não há dúvida que se trata da velha tática de por-se em bicos de pés para parecer alto!O que não nos inibe de sermos rascas, isso não, sobretudo quando lhes damos crédito.
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