19/08/2009

O chico-espertismo (1)



O conflito radical entre a ética e o interesse próprio e a clara tendência que se vem acentuando nos últimos anos no sentido da exacerbação do interesse próprio fez ressurgir certos tipos de cidadãos portugueses como, por exemplo, o chico-esperto. Por outro lado, o chico-esperto prolifera e desenvolve-se, porque não perseguir o interesse próprio, ser-se ultrapassado, ceder o lugar no autocarro, pagar os impostos no prazo ou respeitar a prioridade num cruzamento é sinónimo de ser-se palerma. Quem é que quer ser palerma? Ora, a recusa de ser-se palerma conduz à afirmação do chico-espertismo e figuras conexas.
Ser palerma é o mesmo que ser trouxa, tanso, pato, manso, indivíduo mole. Ser chico-esperto é o contrário de tudo isso: um gajo fino, astuto, rato, em quem ninguém faz o ninho atrás da orelha...
O esperto desenrasca-se, enquanto o inteligente, perante o mesmo problema, reflecte e arquitecta uma solução, analisa as alternativas, dialoga. O chico-esperto, entretanto, já se safara.
Existem esquentadores inteligentes, mas não existem esquentadores espertos. Um esquentador esperto seria um esquentador que fintasse o contador da água e do gás, à imagem do dono chico-esperto que faz uma ligação clandestina à rede pública depois do funcionário da EDP ter ido lá a casa cortar a luz por falta de pagamento. O contador da água dum esquentador esperto não regista consumos; e se for muito esperto iria conseguir que a EPAL ficasse a dever dinheiro ao consumidor. Isso é que seria esperteza! Um esquentador inteligente não consegue ir tão longe, porque mantém-se sempre dentro dos limites da legalidade. Mas cumprir a lei só mesmo para os tansos, para os trouxas e para os palermas. E para os inteligentes, mas nunca para os gajos espertos.

1 comentário:

  1. Porque terão escolhido os Chicos para carregar com toda essa esperteza? Alguns Chicos até se dedicam a denunciar a esperteza de josés, Albertos e Valentins.
    O Chico já não faz sentido. Talvez fosse melhor chamar- lhes Bernardo, José Maria, Gonçalo, Gui, Dudu. Mesmo os Franciscos são agora Kikos espertos. Nunca Chicos!
    É Chic ser esperto em Portugal!

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