04/08/2009

Uma corte perdulária paga com ilusões


Segundo o historiador John Armitage, referindo-se ao numeroso grupo que acompanhava a família real ao exilar-se no Brasil no início do século XIX, tratar-se-ia de “um enxame de aventureiros, necessitados e sem princípios” […] que pouco se interessavam pela prosperidade do Brasil […] e propunham-se mais a enriquecer à custa do Estado do que a administrar justiça ou a beneficiar o público.» (John Armitage, História do Brasil. Desde o período da chegada da família de Bragança, em 1808, até à abdicação de D. Pedro I, em 1831, compilada à vista dos documentos públicos e outras fontes originais formando uma continuação da História do Brasil de Southey).
Com efeito, o séquito daqueles que vivem à custa do Estado e dos dinheiros públicos é uma corja e um problema público. Hoje, como dantes, são muitos os mancebos que vivem à babugem do poder e assim alimentam a sua ociosidade diplomada à pressa nas universidades privadas. A acompanhar os sucessivos reis apareciam sempre uns tipos que nada mais faziam do que dizer que sim ao rei e rir das suas piadas, mesmo as que não tinham piada nenhuma. O rei não podia rir sozinho, porque se isso acontecia, se só ele percebera a piada, então não tinha piada nenhuma. Por isso, havia, como há ainda, uns contratados para fazerem um coro de risos a acompanhar os ditos reais.Os estrangeiros admiraram-se com o número de indivíduos que acompanhou e integrou a corte portuguesa no Brasil: em poucas cortes europeias haveria tanta gente a pulular. De acordo com o autor brasileiro Laurentino Gomes, tratava-se de “uma corte cara, perdulária e voraz” (Laurentino Gomes, 1808, p. 162). As despesas cresciam sem parar e o buraco orçamental começava a não ter fundo. Para isso contraíram-se empréstimos junto de Inglaterra. Mas outra providência na altura ficará tristemente célebre: a criação de um banco para emitir moeda. Será assim que surgirá o primeiro Banco do Brasil, criado pelo príncipe regente. O Banco irá emitir acções que serão compradas a troco de títulos de nobreza, comendas e nomeações para cargo de deputado. Em poucos anos o banco já estava arruinado: apenas 20% do dinheiro em circulação era garantido pelo ouro depositado: “Ou seja, 80% correspondiam a dinheiro podre, sem lastro.” (Laurentino Gomes, op. cit., p. 163). A história de papéis que nada valem, vem de longe, como se pode ver. O problema é que não só há sempre quem os coloque a circular, como surge quem os queira adquirir, mesmo sabendo que adquiria gato por lebre. O valor duma boa ilusão é sempre superior ao duma triste realidade.

1 comentário:

  1. Acoisa começou bem! Mas a assiduidade é que está a deixar os leitores, em pulgas e desiludidos.
    Vá lá mantenha a chama e denuncie os BPN deste país!
    è que anda para aí muita gente iludida...

    Força Zé

    ResponderEliminar