20/09/2009

Assim-assim e feios



Michel Onfray numa espécie de curta autobiografia a iniciar o seu livro A potência de existir (Ed. Campo da Comunicação, 2009) recorda as empregadas, oriundas de uma aldeia vizinha e que serviam num refeitório dum colégio salesiano onde o autor teria ido parar, dizendo-nos que mais pareciam saídas de um filme de Fellini. Sobre uma delas, Onfray afirma mesmo que ostentava "um bigode de pedreiro português" (p. 35). É possível que muitos dos pedreiros portugueses apresentem esse bigodinho donde lhes advém a fama. É tão verdade, quanto muitas das casas francesas foram construídas por pedreiros portugueses, eventualmente explorados por empresários franceses sem bigode. É verdade que fiquei tocado pela caracterização de Onfray e isso é ridículo. Nem devia estar aqui a confessar que para além de sermos assim-assim, também não somos muito bonitos. Mas já agora e como seguimos esse caminho, atente-se com atenção na fotografia do filósofo francês Michel Onfray. De facto, não usa bigode. Ninguém o tomaria por pedreiro lusitano. Um intelectual, dado a grandes levitações metafísicas e impregnado de linguagem esotérica, quer-se assim mesmo: sem pêlos, rapadinho, olhar angelical, como se estivesse disponível a todo o momento para receber a santa eucaristia; e a anemia congénita dos filósofos, bem visível na brancura da pele, só lhe pode melhorar o voo minerviano e o físico de escuteiro.

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