27/09/2009

Ser professor num país assim-assim



"Mas este desprezo é injusto face a uma tarefa que nem um gestor experiente, nem um empresário com nervos de aço haveria de aguentar durante uma manhã sem pensar em fugir: nomeadamente a de levar uma horda de selvagens sem interesse na aprendizagem, mal-educados e habituados ao entretenimento televisivo a interessarem-se pela sublimidade do Idealismo alemão, enquanto estes não pensam noutra coisa senão organizarem ataques à dignidade do professor. Ninguém fora do recinto escolar faz uma pequena ideia deste combate diário contra a insolência pura e simples, a maldade sádica e a crueza mental. E o que é pior é que o professor ainda por cima tem de suportar que lhe sejam apontadas responsabilidades pela rudeza e falta de educação dos seus alunos: ele próprio tem a culpa; ele é que não tem mão na turma, os alunos não curtem as suas aulas, pelo contrário, sentem-se maçados. Quem o souber, venha daí e diga como é que alguém há-de pôr os miúdos a curtir a «Ifigénia» de Goethe: já ninguém espera da miudagem que traga um mínimo de civilização. O seu comportamento é unicamente imputado às aulas, ao passo que na realidade padecem de falta de capacidade de concentração e de défices educacionais de fabrico caseiro."
Exemplar, não?... E será que estamos a falar do trabalho dos professores e dos alunos portugueses?... Não, o texto, de Dietrich Schwanitz (Cultura, Publicações Dom Quixote, 2004, p. 29) refere-se aos professores alemães. Porém, é evidente que poderíamos estar a falar da educação em Portugal. E as referências que faz aquele professor alemão da universidade de Hamburgo em relação aos governantes que gerem a educação também assentam perfeitamente no caso português. Estamos, pois, perante um mal-estar civilizacional. Como referia George Steiner, estamos perante uma nova barbárie que afecta o Ocidente. Preparemo-nos, pois, para mergulhar na ocidental Idade das Trevas.

Sem comentários:

Enviar um comentário