Juntando-se a tantos que estiveram em Portugal durante a II Guerra, também Mircea Eliade, eminente historiador das religiões de origem romena, por cá passou e estagiou, enquanto adido de imprensa e depois adido cultural da Embaixada da Roménia. Durante esses anos, de 1941 a 1945, escreveu um diário, que foi agora publicado na Guerra e Paz, Editores, com o título Diário Português. Ao longo das suas quase 300 páginas, acompanhamos a sua estadia angustiada e depressiva, o seu sofrimento com a morte da sua companheira, as suas viagens pelo país, as suas reflexões sobre a situação política internacional, onde revela claramente o seu posicionamento de direita, apavorado com a destruição da civilização latino-cristã diante da ditadura do proletariado (p. 72, entrada de 23 de Setembro de 1942). No entanto, para aqui interessa-nos as suas breves e parcas referências aos portugueses e a Portugal. Basicamente, segundo Mircea Eliade, os portugueses são um povo morno, lamenta a pobreza intelectual da vida lisboeta e, antes de ir embora, faz um negativo balanço dos anos vividos entre nós: teriam sido anos pouco exaltantes, muito próximos duma existência meramente biológica. Tudo se pode resumir, porém, a um lamento clarividente: Portugal parece-lhe um país cada vez mais triste, quase a morrer! Ou, como ele condensa para o nosso sobressalto: somos um passado sem glória...
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