09/12/2009

Jesus, os collants e o sentido do sofrimento


Aquando do último jogo do Benfica na Liga Europa com o Bate Borisov na Bielorrússia, Jorge Jesus, treinador do Benfica, exigiu que os jogadores, apesar das temperaturas negativas, treinassem de calções e impediu que vestissem collants, como muitas vezes acontecia em regiões de temperaturas mais frias. Faziam-no os jogadores do Benfica, como também os do Sporting ou do Porto ou de muitas equipas quando obrigados a jogar sob temperaturas abaixo dos zero graus. Esta decisão do treinador benfiquista foi justificada como forma de aproximar as condições do treino das condições do próprio jogo. Trata-se de um sofisma, porque então, poderiam jogar de collants, tal como tinham treinado, usando collants nas duas situações. O que Jesus não disse, mas quis passar aos sócios do clube da Luz e, desse modo, ao povo do futebol, é que, com ele, um treinador duro e implacável, tal  como implacavelmente masca a sua torturada pastilha, não há lugar para mariquices, que o futebol é para homens que são indiferentes à temperatura, que, se pudessem, até entravam sem camisola, com o peito desprotegido, como muitos rapazes das claques. O que Jesus quis passar aos benfiquistas é que com ele, o futebol assume-se finalmente como uma modalidade viril e os seus jogadores não podem revelar essa fraqueza de ter frio ou procurar algum conforto nuns collants. Para Jesus, se fosse possível, todos os seus jogadores usavam bigode e escarravam para o relvado depois de umas curtas declarações aos jornalistas. Para o novo herói da Luz, no futebol sofre-se e os seus homens não se devem importar de sofrer na sua entrega completa, devem procurar sofrer. Como Jesus. É por isso que eu rezo todos os fins de semana pela vitória do meu Porto, para que o povo da Luz, os seus jogadores e o seu Jesus sofram, enquanto outros riem, marcam golos aos espanhóis e comem francesinhas.

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