01/01/2010

Ano novo, vida nova?


Os Portugueses levam a passagem do ano a sério. É assim por todo o mundo, festejando aquele instante em que se enterra o ano velho que passa e se dão as boas-vindas ao ano novo que desponta. Nós, por cá, fazemos o mesmo, como os nossos vizinhos espanhóis, os nossos irmãos brasileiros e os amigalhaços ucranianos. Naquele momento único dão-se dois eventos: é o estertor dum ano e, simultaneamente, o primeiro berro de outro. É, de facto, um acontecimento memorável (ou dois), um segundo irrepetível. Porque, imeditamente a seguir, tudo volta ao mesmo. Mal se bebeu o champanhe (ou o espumante), trocaram-se beijos, abraços e sorrisos, exprimiram-se desejos e anotaram-se projectos e tarefas, os Portugueses afivelam o seu ar sisudo, levam a loiça para a cozinha, apanham do chão as migalhas do descuidado do costume e guardam a garrafa do uísque em que ninguém tocou, dando-se o mesmo destino ao saquinho dos amendoins salgados, já enfeitado com uma mola da roupa para não ficarem moles e servirem para a próxima. A passagem do ano é um momento de passagem como o próprio nome indica. Passagem de ano e não paragem de ano. Ou pastagem de ano. A festa foi de passagem, como uma pequena ponte pela qual todos atravessamos para irmos parar ao mesmo sítio.

A nossa esfuziante alegria com a passagem de ano só é possível porque irrompe numa eterna paisagem cinzenta e triste. A nossa comemoração é de estalo, mas a realidade não muda por isso. Se mudasse, quem é que reparava na passagem de ano?

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